Recentemente, o supermercado Justo, uma startup de origem mexicana, anunciou o encerramento de suas atividades no Brasil após três anos de operação. Este movimento, que segue um investimento expressivo de US$ 70 milhões, destaca os desafios que as empresas enfrentam ao tentar estabelecer uma presença sustentável no mercado digital brasileiro. O encerramento das operações do Justo no país levanta questões sobre a viabilidade de supermercados 100% digitais no mercado brasileiro.
Fundada em 2019 por Ricardo Weder e Ricardo Martinez, a empresa encontrou dificuldades em um setor que, embora promissor durante a pandemia de Covid-19, continua a desafiar modelos de negócios unicamente digitais. A logística, o ambiente regulatório e a competição intensa são alguns dos obstáculos que um supermercado virtual precisa superar para prosperar no Brasil.
Qual é a Viabilidade de um Supermercado Totalmente Digital?
A operação de um supermercado completamente digital implica em desafios específicos que vão além daqueles enfrentados por outros tipos de varejo online. A entrega ágil de produtos, muitos dos quais são perecíveis e exigem armazenamento especial, constitui um dos maiores entraves. Este fator logístico, aliado à necessidade de preços competitivos em um ambiente de margens já estreitas, torna difícil escalar o negócio de forma sustentável.
O consultor Alberto Serrentino destaca que o modelo de supermercados virtuais, especialmente em mercados complexos como São Paulo, precisa de uma estrutura muito robusta para operar de forma lucrativa. As dificuldades incluem tanto a eficiência operacional quanto a sustentabilidade econômica no longo prazo.
Quais são os Obstáculos Regulatórios e Infraestruturais?
Além dos desafios logísticos, as questões contábeis e fiscais no Brasil adicionam uma camada de complexidade para os supermercados digitais. Segundo a professora de administração Mariana Munis, cada estado e município pode ter suas próprias regras de tributação, impactando diretamente as operações comerciais. Esse ambiente fragmentado complica a gestão fiscal e aumenta os custos operacionais das empresas que tentam operar em nível nacional.
Também se deve considerar a infraestrutura logística do país, que é altamente dependente do transporte rodoviário. O elevado custo e a complexidade desse sistema dificultam a entrega eficiente de produtos em curto prazo, um fator crucial para a experiência do cliente em supermercados online.
Como a Pandemia Influenciou o Consumo Online de Alimentos?
A pandemia de Covid-19 serviu como um catalisador para o aumento das compras online, incluindo o setor de alimentos. Um relatório da NielsenIQ Ebit de 2023 revela que o consumo de alimentos via aplicativos de entrega cresceu significativamente. No entanto, mesmo com o aumento da demanda, os desafios inatos ao varejo alimentar digital permanecem. A necessidade de adaptar rapidamente modelos de negócios para atender a estas novas demandas revelou-se particularmente difícil para muitas empresas, como visto no caso do Justo.
Quais são as Perspectivas para o Futuro dos Supermercados Digitais?
Apesar dos desafios, o interesse do consumidor em serviços de supermercado digital continua a crescer. Empresas estabelecidas no mercado, como iFood e Rappi, assim como vendedores tradicionais que expandiram suas operações online, têm potencial para absorver a clientela de empresas como o Justo. O aumento da demanda e o avanço tecnológico podem, eventualmente, permitir que novos modelos de negócios sejam desenvolvidos para superar os atuais desafios logísticos e regulatórios.
Conforme o mercado evolui e novas soluções logísticas são introduzidas, é possível que vejamos um cenário mais favorável para a operação de supermercados 100% digitais no Brasil. Adotar inovações que melhoram a eficiência operacional e abordar as complexidades do ambiente regulatório será crucial para o sucesso futuro dessas operações no país.